.



Quando descobri a real forma 
do bacalhau achei por bem mostrá-la no 
seu esplendor, como se fora uma jóia. 
Estive uma hora a apanhar água do chão, claro…

 


“está incauto a pensar noutras vidas e é apanhado de raspão…”


 

Pescar à linha é uma actividade um bocadinho niilista – algo que me escuso a fazer desde que comecei a mergulhar debaixo de canas e junto de linhas, ao ver o desdém com que os mais dos peixes olham para as minhocas e o cepticismo que devotam aos anzóis. A pesca do bacalhau não tem isco, é feita com um anzol de quatro pontas, pesado com chumbo, que os pescadores levantam e deixam cair ritmicamente, à profundidade que pensam encontrar os peixes. O bacalhau é literalmente pescado “por acidente”, está incauto a pensar noutras vidas e é apanhado de raspão por um dos bicos do anzol-múltiplo, às vezes pela barriga, às vezes pela cauda. 

Num dos primeiros dias que passei dentro de água de volta dos pescadores, apanhei um personagem muito histriónico, quase português – estavam uns cinco graus negativos e acho que ver um tipo a nadar com uma camera gigante à volta do barco pô-lo em modo dadaísta. Achou tanta piada à situação que no final das nossas conversas e das minhas fotografias me ofertou este bacalhau, acabadinho de pescar.

Como os noruegueses chamam ao bacalhau “o ouro do mar”, resolvi fotografá-lo como se fosse uma jóia, com iluminação de estúdio normalmente guardada para top-models e a atirar-lhe água para cima – o que redundou em mais de uma hora a apanhar água e a lavar o cheiro a peixe.

P


estavam uns cinco graus negativos e acho que ver um tipo a nadar com uma camera gigante à volta do barco pô-lo em modo dadaísta