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Há algo primordial e completo que se sente quando se está
sózinho na água ao anoitecer, a uma grande distância da costa,
com mais de 80 metros de profundidade
debaixo dos pés.

 

Historia Foto 2

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“Os sonhos de uns são os terrores de outros.”


Os sonhos de uns são os terrores de outros – apercebi-me disto num dos dias em que me fiz acompanhar de kayak por um americano expatriado – o Joe, um mestre cervejeiro importado directamente da Califórnia. Expliquei-lhe que onde estávamos o fundo batia a mais de 80 metros – desde pequeno que me atrai e conforta o sentimento de estar à tona num mar sem fundo – e vi-o ficar da cor da cal. 

Mas é isto, neste final de dia aqui retratado a actividade era tal que me fui deixando ficar na água. Os pescadores têm por hábito amanhar logo ali os bacalhaus e, quando devolvem as entranhas à água, vêm-se logo rodeados de gaivotas  convidadas para jantar. Esta fotografia foi tirada perto de um barco que estava a ter um belo fim de dia de pesca, com muito peixe e muitas entranhas, interessou-me retratar a simbiose entre os pescadores e as gaivotas. 

As gaivotas aqui são maiores que as nossas, têm o ar saudável que quem não precisa de comer lixo para sobreviver e não se impressionam muito com mergulhadores, pelo que pude aproximar-me de um grande pedaço de entranhas de bacalhau que ali flutuava e esperar pelo momento mágico para fotografar. 

Estava eu nesse submundo mental quando de repente um vulto gigante agitou as águas defronte de mim e fez desaparecer o enorme bocado de bacalhau que atraía as gaivotas. Foi tudo tão rápido que só tive tempo de não ter tempo para nada. E a seguir encolhi as barbatanas e deixei-me ali estar, vagamente fetal, a pensar “mas eu não devo ser bom da cabeça para estar assim aqui…”

P

 


Foi tudo tão rápido que só tive tempo de não ter tempo para nada.