Nós, para os peixes, somos como seríamos para os pássaros
se de repente desatássemos a voar

Detail of cod in water (c) vasco pinhol


a linha lateral que percorre o corpo de um peixe está carregada de sensores que detectam as mais pequenas alterações de pressão e movimento


O exercício mental de tentar perceber o mundo como será visto por um peixe nunca me cansou. O choque entre os mundos de animais adaptados a meios naturais diversos (a água, a terra, o ar) é sempre dramático e deve criar, nos peixes, sensações de estranheza que não temos meios de perceber. Lembro-me de ler um conto em que um corvo, voando num dia de cerrada neblina e pensando estar a uma altura segura, dá de caras com o autor quase chocando com ele. Soltam ambos um grito de terror – o autor por de repente ver um corvo a chocar com a sua cara, e o corvo por de repente ver aquilo que será, no onírico dos corvos, a imagem mais aterrorizadora da criação: um homem voador. Que pensarão os peixes dos nossos desastrados movimentos dentro d’água, quando, com o corpo, se apercebem da mais ténue vibração e movimento? (a linha lateral que percorre o corpo de um peixe está carregada de sensores que detectam as mais pequenas alterações de pressão)