O mar perde facilmente a cabeça à superfície,
com ataques de fúria assustadores, que contradizem
sempre a calmaria que lhe vai no fundo.

detail of photo of long-liner, Norway (c) vasco pinhol


gritei-lhe “What’s that?”, e ele devolveu-me “Shark!!”, e eu encolhi as pernas contra o corpo


OK. Esta tem de ser contada. Um dos dias pedi ao Stein Magne Hofff que me levasse quando fosse levantar a “longline” (em português chama-se pesca de palangre, vá lá ver). O Stein Magne é professor de pesca, vive entre os mundos – aqui estranhamente complementares – do didatismo e da pesca de aventura. O palangre, com mais de 100 metros de comprimento, estava numa bóia à boca do fjord, à saída para o oceano. Estava a maré a entrar e o vento a empurrar para fora, por isso quando saltei para a água separámo-nos logo e tive de nadar com honestidade para me conseguir manter perto do barco… eu mais empurrado pela maré, ele mais empurrado pelo vento. Debaixo de mim, acho que mais de 600 metros de água salgada. A dada altura, vejo que na linha que enrolava com o guincho começam a aparecer bacalhaus cortados ao meio, ou cortados pela cabeça e gritei-lhe “What’s that?”, e ele devolveu-me “Shark!!”, e eu encolhi as pernas contra o corpo a pensar “mas que é que se passa comigo, o que raios estou eu a fazer aqui?”. É isto.